domingo, 21 de abril de 2013

"Não sou herói, sou um sobrevivente", diz cabo que matou bandido e salvou policial

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"Não me vejo como herói. Eu me vejo como um dos sobreviventes do local". A frase é do cabo Gilberto das Neves, 49 anos, policial militar que salvou a vida da terceira policial que atuava no mandado de prisão de Ednei Brito Pereira na Fazenda Roda D’Água, na localidade de Boleiras, na zona rural de Sooretama, Norte do Estado.  Ednei - que era  acusado de três homicídios - foi morto pelo policial militar durante a ação.
Durante a operação, os investigadores da Polícia Civil Leone José Pereira da Silva e José Nivaldo do Amaral foram executados  pelo bandido ao darem voz de prisão e tentarem algemá-lo. "Do mesmo jeito que aconteceu com eles, poderia ter acontecido comigo. Podem morrer dez bandidos, mas a morte de um policial é uma perda enorme. Ninguém saiu vitorioso nessa situação", pondera.
O policial  afirma ter agido de forma rápida - cerca de 1 minuto e meio após - , ao ouvir os disparos. Ele não havia percebido que, no momento em que atirou em Ednei, o bandido apontava uma arma para a cabeça de outra policial civil - que não está sendo identificada por questões de segurança. Ele só se deu conta da situação quando a arma do criminoso caiu no chão.
"Eu estava nos fundos da casa, dando uma assistência caso o cidadão tentasse fugir pelo matagal. Ouvi os tiros. No momento em que rodei a casa e vi o que estava acontecendo, eu nem cheguei a ver realmente que tinha outra policial. Só lembro que havia um infrator, e que eu precisava agir. Foi quando  fiz os disparos", explica.
No meio da tragédia por acaso
O cabo da PM - que trabalha no policiamento em Linhares e mora em Sooretama - estava no sítio apenas visitando um amigo, que é proprietário do local. "Costumo ir  com minha sogra dar uma assistência na colheita do café. Os policiais chegaram e perguntaram sobre esse indivíduo, onde ele  poderia estar. Levei os policiais até a residência. O local é de difícil acesso para quem não conhece", explica.
Segundo o policial, os donos do sítio não sabiam dos crimes cometidos por Ednei, e há dez dias haviam contratado o homem para trabalhar na colheita do café. O PM afirmou que o criminoso seria demitido, por não apresentar a documentação necessária para assinar a carteira de trabalho. "Lá todo mundo assina a carteira, mas ele havia se negado a mostrar a documentação. Ele seria demitido na próxima segunda-feira (22)", afirma.
Consciência tranquila por salvar uma vida
O cabo da PM não titubeia ao dizer que não se arrepende do disparo. Tem a convicção de que salvou uma vida, que agiu  para proteger os companheiros de polícia e também em legítima defesa.
"A gente tem um treinamento que é de proteção da vida. Um bandido quando vai praticar um crime, ele vai para roubar, matar ou morrer. Então a gente tem que se preparar. Ele não tinha nada a perder, nós temos que nos preparar para isso", pondera.
Mesmo estando de licença, Gilberto afirma que tem que exercer sua função como policial militar. "Policial Militar, mesmo de folga, ainda é um policial. Se omitirmos algum fato, responderemos por ele", explica.
Em 19 anos de PM, completados em junho, não foi a primeira vez que o cabo passou por essa situação. "Já atirei contra bandidos e também fui baleado no ombro. Na ocasião, se tratava de um menor de idade", conta.
Revolta é o sentimento geral
Após atirar em  Ednei, Gilberto chamou o reforço para ir ao local prestar socorro e isolou a área. Segundo ele, a esposa de Ednei não sabia que ele tinha cometido assassinatos. "Ela disse que estava a pouco tempo com ele, e que não sabia muita coisa sobre a vida anterior dele", afirma.
Desde a tragédia, que vitimou os dois investigadores e também o bandido, o cabo da PM teve pouco contato com a policial civil que está viva graças à sua ação. A única coisa que ele sabia dizer é que ela estava muito abalada no local do crime.
Na manhã desta sexta- feira (19), ele compareceu ao velório dos investigadores e teve contato com as famílias. O clima, relata o cabo, é de revolta. "Os populares da cidade e os familiares estão indignados. Tanto os companheiros da Polícia Militar, quanto da Polícia Civil, também estão", afirma.
"Para mim ele é um herói", diz esposa
Após conceder entrevista ao portal GAZETA ONLINE, cabo Gilberto das Neves retornou para sua casa, em Sooretama. Abalado emocionalmente, por conta dos fatos, ele precisou ser medicado e está com febre. As informações são da esposa do PM, uma cabeleireira de 44 anos, que preferiu não ter o nome identificado.
"Ele está com febre de 40 graus. Dei um remédio e ele dormiu. Neves está muito abalado com tudo o que aconteceu. Ele me disse que jamais pensou um dia ver tamanha tragédia", conta a esposa.
A cabeleireira disse que o ato do marido de atirar em Ednei Britto Pereira, no momento em que ele se preparava para matar a terceira policial civil no local, foi visto como heroico pela população de Sooretama.
"Parece um coisa de Deus ele estar ali, naquele momento. Ele infelizmente não pode salvar os três, mas conseguiu salvar a policial no momento em ela que seria morta", pondera.
Orgulhosa do feito do marido, ela concorda com os vizinhos. "Eu tenho ele como herói. Foi um ato muito de bravura. Ele fez pelos colegas o que faria pela família dele. Aliás, a corporação toda é assim, como uma família para o Neves", disse.
A cabeleireira e o PM têm dois filhos - um menino de 13 anos, do primeiro relacionamento da mulher, e uma menina de 14 anos, de um casamento anterior do cabo Neves. "Nossos filhos só ficaram sabendo hoje por causa da repercussão no jornal. Meu marido explicou para eles depois, mas são muito crianças para entenderem o que aconteceu", diz.
A Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiros Militar do Espírito Santo também está de luto e lamenta o fato ocorrido com os amigos da nossa coirmã Polícia Civil e parabeniza ao Militar que agiu de forma heroica salvando a vida da policial.

Fonte: Gazeta Online

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