segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sargento da PM que disse que segurança pública no Estado é uma "grande balela" é lotada no gabinete do prefeito de Vitória



“O que mais me revolta nessa história é o fato de uma pessoa de bem morrer desse jeito. Sou policial há 21 anos. Estamos ferrados com a falta de segurança no nosso Estado. Será que vai precisar morrer o filho de alguma autoridade para alguém fazer alguma coisa? Estamos vivendo uma era de epidemia da violência. Nosso Estado está entregue às baratas. A segurança pública aqui é uma grande balela. Não há Estado Presente. Quem não quer ser morto num assalto, tem que ficar dentro de casa...Sei que posso ser punida, mas estou falando a verdade. Nenhum governo pôs a mão de verdade na questão da segurança pública. Quem trabalha na área sabe que o que eu digo é verdade. Trabalhar hoje na polícia é difícil, porque estamos em guerra. Não podemos pôr a mão num  filho da puta de um bandido, agir com mais energia, que a vida da gente acaba ali. Mas eles podem fazer tudo o que querem, como destruir família de pessoas de bem.”



O desabafo é da sargento da Polícia Militar do Espírito Santo Margarida Gagno Intra, 40 anos, cunhada do comerciante Nilton de Freitas Marangoni Júnior, o Junhinho Marangoni, 39, assassinado covardemente por três bandidos, durante assalto, no bairro Jardim Asteca, em Vila Velha. Dois dos bandidos que mataram Juninho Marangoni já foram presos pela Polícia Civil, após denúncia anônima feita ao Disque-Denúncia, pelo telefone 181.


A cidadã Margarida tem toda razão em seu desabafo. A sargento Margarida, porém, está errada e deverá ser punida. Aliás, a sargento Margarida contribui para a crescente onda de violência e a escassez de policiais nas ruas.


Contribui porque ela é mais uma das inúmeras e inúmeros profissionais da PM que, em vez de estar nas ruas para ajudar no policiamento ostensivo e repressivo, ficam dentro dos quartéis fazendo trabalho administrativo ou em gabinetes de “autoridades”.


A sargento Margarida, por exemplo, é paga pela Polícia Militar, mas trabalha no gabinete do prefeito de Vitória, João Coser (PT), que está todo enrolado com as Justiça por conta de denúncias de irregularidades em desapropriações na capital. Neste momento, Coser está com seus bens bloqueados pela Justiça Federal.


É para ele que a sargento Margarida presta serviços, mas recebendo salários do governo do Estado. Margarida foi preparada pelo Estado para trabalhar nas ruas, protegendo cidadãos, como seu cunhado Juninho Marangoni. Mas Margarida preferiu proteger o prefeito João Coser. Está com Coser há quase oito anos – desde quando ele se elegeu a prefeito pela primeira vez.


Assim como a sargento Margarida, existem centenas de outros militares que preferem o aconchego dos gabinetes em vez de ir paras ruas. A maioria fica nos gabinetes por opção e vontade de seus superiores – ou políticos –, não por necessidade.


Chegam para trabalhar às 9 horas, param para almoço e saem do expediente às 18 horas. Não trabalhem nos fins de semana e nem nos feriados. Lugar de oficiais também é nas ruas, fiscalizando se os praças – sargentos, cabos e soldados – estão cumprindo o policiamento ostensivo e repressivo.


A sargento Margarida, entretanto, não tem culpa pela vida que leva. A culpa é da politicagem brasileira. É da falta de gerenciamento na maioria das Polícias Militares Estaduais. Elas necessitam de uma reengenharia administrativa, de um choque de gestão. Qualquer executivo de empresa privada sabe que, se não colocar ordem e dar exemplo ao empregado, este quer mais é levar a vida sem compromisso com a produtividade e resultados.


Residem, neste ponto, os problemas que atingem a segurança pública em todo o Brasil: a falta de compromisso com os resultados. É preciso, urgentemente, adotar uma política de cobrança aos comandantes. Eles têm que ser cobrados pelos resultados nas ruas.


Enquanto os governantes acharem que o crime acontece porque foi “coisa do destino”, outros Juninho Marangoni continuarão sendo assaltados e mortos. Ou,  então, teremos que engolir desculpas, como a dada pelo chefe do Setor de Planejamento e Operações do 4º Batalhão da PM (Vila Velha), capitão Leandro Menezes, de que “a característica do crime (morte do comerciante Juninho Marangoni) é de oportunidade”, conforme consta na página 4 de A Tribuna deste sábado (16/06).


De fato, o assassinato do comerciante Juninho Marangoni foi de oportunidade. Oportunidade dada pela ausência da Polícia Militar nas ruas de Jardim Asteca, porque, enquanto os criminosos ficam livres nas ruas, policiais como a sargento Margarida é liberada para trabalhar para o prefeito de Vitória, recebendo salários da PMES. João Coser precisa de segurança? Se  precisa, que contrate com seu salário ou com dinheiro da Prefeitura de Vitória.


Esta mesma oportunidade foi dada também aos bandidos que assaltaram e mataram, com um tiro na nuca, a jovem Cíntia Trancoso da Costa Pereira, 25 anos, que era proprietária de um Pague-Fácil, quando saía de sua loja, no bairro Itapoã, também em Vila Velha, com dinheiro e cheques para serem depositados num banco.  Não havia policiamento no bairro. Querem oportunidade melhor?


Enquanto os governantes passam a mão na cabeça de quem deveria cobrar resultados de seus subordinados e os comandantes militares falam que bandidos aproveitam oportunidade para agir, a sargento Margarida Gagno Intra, em memória de seu cunhado Juninho Marangoni, deveria dar o primeiro passo: chegar segunda-feira ao gabinete de João Coser e dar adeus ao prefeito.


Diga para seu comandante que, a partir de agora, você irá para as ruas ajudar a reforçar o policiamento ostensivo e repressivo, para que os bandidos não tenham nova “oportunidade”.


Quem sabe, por meio do exemplo e gesto nobre de uma subalterna, os oficiais que insistem em fazer serviços burocráticos não se sensibilizem e também vão para as ruas. O momento é de emergência. Exige, portanto, esforço concentrado de todos para que a sociedade não volte a ouvir de uma sargento da Polícia Militar do Espírito Santo que segurança pública em nosso Estado é uma "balela".
Fonte: elimar cortes

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