sábado, 17 de dezembro de 2011

Sábado do Leitor: Antiguidade ou velhice


Pensando nas redes sociais, é impossível, não reconhecer que elas são ferramentas que aproximam as pessoas e suas idéias e com isso nos fazem repensar alguns conceitos, e também ter a oportunidade de passar certa experiência aos mais jovens ou os menos ligados nas mudanças tanto na PM quanto na sociedade como um todo.

Eu como estou na corporação há 15 anos, e sou cabo, me considero no meio do caminho, e desde que entrei para as fileiras aconteceram mudanças radicais e muito rápidas no modo como é feito o trabalho e também na forma como somos avaliados, onde a sociedade está muito mais exigente, e fiscaliza cada ato do policial. Diariamente convivo com policiais mais antigos que passaram por situações que não vivi, e com certeza os que hoje começam na vida da caserna não passarão, e, cada um de nós tem seu próprio momento e vai aprender a se portar como é devido, e é nesse diapasão que exponho meus argumentos.

Outro dia no facebook ficou evidente o “choque” de pensamentos entre companheiros, onde num comentário um colega de farda relatava uma das milhares de reportagens em que o policial é tratado como culpado antes de ser julgado, sendo já condenado pela mídia parcial e preconceituosa contra os profissionais de segurança, e em um comentário, alguém escreveu que esses fatos desanimam o trabalhador, que não recebe apoio social, e por isso não devemos exagerar na atuação policial, nos limitando ao normal. Em contrapartida outro colega, disse que temos sim que partir para a guerra, e não nos “escondermos” atrás da farda, sendo isso o estopim de um breve embate entre o chamado recruta (termo que não gosto e não uso), e o praça velho, a respeito do que seja operacionalidade.

Como policial, comecei na PM admirando os praças mais antigos,(como relatei em outro artigo), que naquela época eram os donos da rua, sua experiência era levada em conta, respeitados e consultados até por militares mais graduados em situações mais complicadas, mas também tinha aqueles praças, que eu não concordava com suas atuações, pois enquanto a maioria me mandava dar porrada, mostrar quem manda, mostrar que policia é policia e o resto tem que nos engolir, estes conversavam, tentavam resolver as situações na base da boa idéia, falavam que serviço bom é aquele que não acontece nada, isso até me revoltava, pois ficava puto quando passava um PO de festa sem dar um sacode em alguém e garanto que a maioria dos leitores vão se identificar com esse depoimento.

No entanto, hoje tento ser o meio termo daqueles que admirava e os que nem tanto, mas sem sombra de dúvida cada um deles me ensinou muito, e muitos deles estão ainda por ai, uns na reserva outros na labuta, e sempre que conversamos vejo o quanto todos estão mudados, mais afinados com a lei, menos raivosos, com as mãos menos pesadas, nosso português melhorou assim como nossa visão do mundo, falamos de família, prosperidade, direitos profissionais, mas também nos orgulhamos das peripécias, das voadas que nunca admitimos e sempre dizemos que aconteceu com o outro. 

Com isso quero dizer que assim com eu algumas vezes desrespeitei policiais com mais rodagem, vejo que as cabeças de muitos garotos e garotas, que não tiveram a formação desumana que outros, sendo mais respeitados, com salários e condições de trabalho melhor, e com isso deveriam se primar pelo profissionalismo e conduta mais apurados, optam em enveredar por caminhos velhos, idéias ultrapassadas, teimando em cometer abusos e irregularidades em nome da lei, ainda em busca de fama, ou renome, achando que “guerra” é só trabalhar em RP, ou apreender armas ou drogas. Não estou criticando ou querendo afirmar que estão errados, pois as quedas ensinam a levantar, mas entendi que podemos aprender com nossos erros ou então aprender com os erros dos outros. Com isso deixo a mensagem que a antiguidade deve ser respeitada sim, pois em outros tempos policiais trabalhavam em condições impensáveis e ainda assim faziam seu melhor, do mesmo modo a vibração dos novos oxigena a tropa, dando sangue, pernas e braços novos ao penoso trabalho policial.

Como critico que sou da PM, onde muitos de nossos direitos constitucionais e humanos não são respeitados, sou um trabalhador que como todos aguardam e acreditam que é possível sermos profissionais sem ser “muchiba”, é um engano achar que é preciso passar por cima da lei para executar o serviço, pois não é nossa responsabilidade curar todos os males da sociedade, nem somos os moldes da humanidade, precisamos pensar também em nossas famílias e podemos querer ser bem sucedidos na carreira, aspirando promoções e bem estar pessoal.

O curso da policia me ensinou os preceitos militares da disciplina, das técnicas e táticas para o trabalho diário, os bancos da faculdade me mostraram que a lei apesar de parecer confusa, é coerente, e é feita para serem parâmetros para a vida social, mas a vida cotidiana me revela todos os dias que somos capazes de aprender a conviver com as diferenças, e não ter medo ou vergonha de modificar nossas atitudes ou opiniões, pois nós policiais, somos acima de tudo, seres humanos, dotados de defeitos e virtudes, sejam novos ou velhos, praças ou oficiais, pois o novo fica velho e o velho não deve ser descartado, e sim renovado para o bem de todos.

"Somente aqueles que nunca deram um tiro, nem ouviram os gritos e os gemidos dos feridos, é que clamam por sangue, vingança e mais desolação. A guerra é o inferno."
(Gen. William T. Sherman)

Renovo os votos de feliz natal e um ano novo de realizações com mais justiça e paz. Juntos somos fortes

Jose Andre santulini
Cb PMES

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