sexta-feira, 5 de julho de 2013

ES: 3ª Ponte vira praça de guerra




Após ataque às cabines do pedágio, manifestantes foram acuados pelo Batalhão de Missões Especiais (BME), que usou e abusou da violência




A sétima edição da série de protestos que vêm tomando as ruas de Vitória desde o último dia 17 acabou em lamentáveis cenas de violência. Após os manifestantes tentarem depredar as cabines da praça de pedágio da Terceira Ponte, o Batalhão de Missões Especiais (BME) entrou em ação para proteger os patrimônio da concessionária Rodosol, um dos principais alvos dos protestos.

Com o efetivo reforçado, a polícia se preparou para o enfrentamento. A estratégia era mostrar aos manifestantes que não seriam tolerados ataques às cabines do pedágio da Rodosol. No momento em que os primeiros grupos tentavam retirar os tapumes que protegiam as cabines, as tropas do BME agiram. Policiais pareciam brotar de todos os lados, lançando bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral sobre os manifestantes. A ação truculenta transformou os acessos à Terceira Ponte numa verdadeira praça de guerra.

O último recurso dos manifestantes era fugir dos efeitos do gás lacrimogêneo. Quem correu em direção a Vitória acabou caindo numa espécie de "arapuca" armada pela polícia. As pessoas eram tocadas como gados em direção à praça do Cauê. A ação de varredura da polícia prosseguiu mesmo após a dispersão dos manifestantes.

Nas imediações da rua Duckla de Aguiar, quatro policiais tentaram retirar à força o equipamento do cinegrafista Apoena Medeiros, da Agência Porã/Século Diário, que teve que se abraçar à câmera para preservá-la. Depois da ação truculenta, os policiais acabaram liberando o fotógrafo, que tentava convencê-los o tempo todo que estava trabalhando.

Se a situação de quem correu em direção a Vitória foi de pânico, os manifestantes que tentaram voltar para Vila Velha pela Terceira Ponte viveram uma verdadeira noite de terror. O BME foi para cima dos manifestantes com violência. Apesar do grupo não ser superior a 150 pessoas e não demonstrar resistência, a polícia fazia uso indiscriminado de bombas de gás lacrimogêneo.

O clima de terror da travessia para Vila Velha se tornou ainda mais assustador quando a iluminação do vão central da ponte foi apagada e os policiais se aproximaram dos manifestantes.

Se a estratégia da polícia era traumatizar os manifestantes, conseguiu. Muitas pessoas saíram do protesto assustadas com a truculência da polícia. A ação violenta recebeu o apoio prévio do governo do Estado, que desde o protesto da última sexta (28) vem alertando a população "de bem" para ficar fora das ruas. Na declarações públicas, o governador Renato Casagrande tem afirmado que "aquele movimento bonito" - referindo-se à marcha dos 100 mil (20/07) - está dando lugar à ação irresponsável de vândalos e baderneiros, que estão dando um caráter negativo aos protestos.

Esse discurso, na semana passada, recebeu apoio do Ministério Público Estadual e do Tribunal de Justiça, que assinaram nota conjunta com o governo repudiando os atos de vandalismo e prevenindo que a polícia agiria com rigor para manter a ordem.

Foi o que aconteceu nesta noite. Quem esteve nas ruas percebeu que a polícia estava "liberada" para adotar uma postura mais violenta. Tolerância zero: menos negociação e mais ação.

Como nos outros seis protestos, o desta quinta-feira começou pacificamente. Um grupo pequeno (cerca de 300 pessoas) saiu da Ufes e seguiu em marcha pela Reta da Penha. Ao longo do trajeto rumo à Terceira Ponte - onde os manifestantes se juntariam ao grupo vindo de Vila Velha -, mais pessoas foram engrossando a marcha. A PM estimava três mil no protesto, mas a Secretaria de Segurança falava em 1,2 mil pessoas.

Havia uma polêmica sobre a trajeto a seguir a partir do encontro na praça do pedágio da Terceira Ponte. Um grupo queria seguir para a Assembleia enquanto outro insistia em permanecer na praça do pedágio. Os manifestantes acabaram se dividindo, mas no final, todos se juntaram em frente à Assembleia num ato de solidariedade ao grupo que ocupa o prédio do legislativo estadual desde a noite da última terça-feira (2), quando o deputado Gildevan Fernandes (PV) pediu vista e obstruiu a votação do projeto de decreto legislativo do deputado Euclério Sampaio (PDT), que propõe o fim da cobrança do pedágio na Terceira Ponte.

Depois de manifestar e receber apoio do grupo que ocupa a Assembleia, o protesto retornou à praça do pedágio, quando teve início o confronto com a polícia.

Até às 23 horas desta quinta, a Sesp informou que pelo menos três pessoas foram detidas. Os motivos das prisões não foram divulgados.

A tráfego de veículos na Terceira Ponte foi liberado por volta das 22h30. As cancelas estão liberadas. Segundo a Sesp, pelo menos cinco cabines foram danificadas.

FONTE - SÉCULO DIÁRIO